segunda-feira, 11 de maio de 2020

Mercado imobiliário - Que tendências ditou a pandemia?

Não há dúvida de que estamos a passar por uma época extraordinária. Épocas extraordinárias trazem inevitavelmente consigo grandes incertezas.

Com a alteração forçada do quotidiano conforme o conhecemos, pela necessidade de reorganização não só do espaço físico mas também do espaço social, são criadas novas dinâmicas segundo as quais teremos de organizar as nossas vidas pessoais e os nossos negócios.

É natural que diariamente surjam variadíssimas perguntas. 

Numa casa ão cada vez mais valorizados aspetos de segurança, conforto e funcionalidade
Como vejo a minha casa ideal?

E agora?

Como será tudo aqui para a frente?
Como posso encontrar soluções para subsistir?
No final da pandemia, vai tudo voltar a ser como antes?...

Nunca fui de fazer "futurologia". Todos os dias, no decorrer da minha vida familiar e profissional,  acabo, também eu,  por me deparar com novas questões. Vou tentando dar resposta aos novos desafios através de tentativa, erros (com os quais tento aprender a fazer melhor) e adaptação gradual. Acredito que com o tempo tudo fluirá de uma forma ou de outra e teremos sempre oportunidade de criar novas realidades.

É igualmente desta forma que olho e encaro o imobiliário. 

Parece-me ainda muito precoce, dado que o mercado esteve aparentemente "congelado", que se faça qualquer previsão de como a procura e oferta se irá comportar, se os preços dos imóveis vão cair ou aumentar nos próximos tempos.

No entanto, durante este período de confinamento, tendo tido oportunidade de trocar opiniões e experiências com diversos players do mercado há algumas impressões que gostaria de partilhar convosco.

Parece-me mais ainda, que é certo que nada voltará a ser como antes. 

É tempo de mudança e a mudança poderá ser um espaço de oportunidade para a reorganização do espaço. E quando falo em reorganização de espaço, refiro-me não apenas ao espaço da intimidade das nossas casas como também ao espaço público e ao espaço social.

Ao longo dos últimos dois meses, tenho assistido a uma valorização de características como a segurança, o conforto e a funcionalidade. 

De repente, passámos a estar, juntamente com toda a família, muito tempo nas nossas casas. As nossas habitações passaram a ser não só o nosso local de refúgio, tornando-se simultaneamente, local de trabalho, escola, espaço de lazer e recreativo e até de atividade física!

Passamos muito mais tempo nas nossas casas, pelo que, naturalmente o valor sentimental do m2 aumenta, o que tendencionalmente aumentará a perceção do seu valor real, sendo que neste momento se assiste a uma grande valorização pelo simples facto de se ter uma casa na qual morar e onde nos possamos sentir em segurança.

Numa primeira abordagem, pressinto que daqui para a frente, passará a haver um maior critério na escolha de casa, valorizando a organização do espaço social e a funcionalidade.

Quem tem estado atento às redes sociais, com certeza notou na quantidade de publicações partilhadas diariamente relacionadas com a arte de bem cozinhar! Curiosamente, em consulta ao Google trends, notou-se, durante o tempo de confinamento, um grande aumento das pesquisas pelas palavras "pão", "bolo", "cozinhar", "bimby" e outras relacionadas, que parecem indicar que, muito provavelmente, a cozinha nos dias de hoje, (sendo que já era um dos fatores mais analisados de um imóvel) poderá ter adquirido uma ainda maior importância.


A cozinha como espaço privilegiado de uma casa
tendências de busca online (útimos 12 meses@google trend)







O digital veio para ficar e o espaço exterior é cada vez mais cobiçado.


Por outro lado, com o incremento dos processos de comunicação digital e negociação online, têm vindo a ser eliminadas barreiras que abrem novas possibilidades de relacionamento e de criação de negócio, criando novos sistemas e veículos  de comunicação.

Com a diminuição da resistência ao digital, que começa a dar impressão de "Ah! isto afinal é simples!", as pessoas nunca se se sentiram tão próximas umas das outras.

Assim, dada a tendência, poderá haver uma perspectiva de que o teletrabalho se possa vir a manter e a desenvolver nos próximos tempos e que se passe a valorizar mais as zonas de trabalho. Um pequeno quarto interior, um aproveitamento de sótão ou qualquer outra divisão resguardada onde seja possível instalar um escritório, poderá ser, no futuro, um novo fator de valorização de um imóvel.

Outro dos aspetos que, durante este período me têm apontado frequentemente como mais valia, e que naturalmente se compreende, é a existência de um espaço exterior. Uma boa varanda, um logradouro, terraço ou mesmo um jardim, poderão fazer toda a diferença na hora da decisão de compra ou de venda de um imóvel. A pesquisa online pelas palavras "varanda" e "moradia" também registou uma considerável subida durante o confinamento.

De facto, os novos sistemas digitais e de teletrabalho permitem equacionar viver em locais mais afastados dos grandes centros urbanos sem contudo perder a proximidade, aumentando provavelmente a procura de moradias nas localidades circundantes onde haja possibilidade de viver de forma mais desafogada. 

As próprias cidades, habitadas por cidadãos cada vez mais solidários com o que os rodeia, ver-se-ão obrigadas a reorganizar-se de forma a manter a sua atratividade, tornando-se mais amigas do ambiente e do cidadão, através do desenvolvimento de infraestruturas, privilegiando por exemplo os transportes individuais, parques de bicicletas entre outras funcionalidades que promovam o distanciamento social saudável, o que consequentemente valorizará os espaços privados e comerciais das zonas de servem.

E os espaços comerciais?


E com a imposição do distanciamento social, atrevo-me a antever uma consequência direta no curto prazo no valor dos espaços para serviços e comerciais.

Com a necessidade de mais espaço para menos clientes, assistiremos a uma menor rentabilidade por m2. O investidor tenderá a não querer pagar o mesmo valor que anteriormente pagaria pela mesma dimensão de espaço, uma vez que terá menor retorno.

Vejamos o exemplo de um restaurante: 



Por outro lado, poderá haver uma oportunidade de valorização para os espaços de comércio de proximidade de dimensões mais pequenas e inseridos em zonas residenciais, dado apresentarem uma alternativa mais segura às grandes superfícies permitindo a deslocação a pé e sem cruzamento de tantas pessoas. Notem que tem havido ultimamente uma forte corrente com vista a apoiar o comércio tradicional. Será sem dúvida mais uma tendência a explorar.

Assim, num mercado em constante mudança e reinvenção, terá maior vantagem, na hora de vender, quem melhor souber adaptar o seu imóvel e transacionar a utilização do espaço, gerindo-o e apresentando-o de acordo com a tendência. Comunicando de forma eficaz  os aspetos diferenciadores e de valorização do imóvel tendo em conta o espaço funcional de uma casa ou espaço comercial, bem como o espaço público circundante e as suas mais valias no contexto atual.



-DICA DE CONSULTOR-
Pense e prepare as zonas diferenciadoras do seu imóvel, e promova-as recorrendo a novas tecnologias de informação. Se tiver capacidade, invista numa visita virtual 3D de forma a pré apresentar o imóvel e qualificar melhor os potenciais compradores, filtrando-os segundo o seu real interesse. Chegará a um público mais alargado e apenas terá de levar a sua casa presencialmente, quem realmente tem interesse em apresentar uma proposta.