Uma boa polémica é como um beliscão daqueles "fininhos" que, pelo choque nervoso que causa, tem o dom de acordar qualquer cérebro, mesmo os que não estando para aí virados, nela tropeçam acidentalmente num canal de TV em horário nobre, enquanto inocentemente jantam com a sua família depois de um dia de trabalho intenso.
Ora, depois de ver a reportagem de ontem na SIC, dei por mim, enquanto consultora imobiliária a voltar à escola primária, e a fazer o seguinte exercício mental:
SE OS PROPRIETÁRIOS TODOS VENDESSEM SOZINHOS OS SEUS IMÓVEIS...
(imagina e faz a tua composição)
-Poderia acordar e deitar-me todos os dias muito mais relaxada porque o meu dia não teria qualquer preocupação ou responsabilidade,
-Não precisaria de confirmar constantemente documentações para verificar se estão corretas,
-Teria tempo para almoçar tranquilamente (talvez junto ao rio Tejo que adoro) porque não perderia manhãs e tardes inteiras nas câmaras municipais a solicitar plantas, verificar projetos de alteração, pedir certidões de licenças de utilização ou de dispensa das mesmas. (repartições de finanças então, seriam para visitar apenas quando o rei fizesse anos!)
-As minhas viagens seriam exclusivamente em lazer e não à procura de um ou outro co-proprietário que tendo decidido emigrar para a índia ou outro lugar exótico qualquer precisa de autorizar a venda,
-Teria disponibilidade para preocupar-me com os meus problemas familiares ao invés de ser o elemento conciliador das vontades de casais divorciados que teimam em não comunicar e que têm património em comum que precisam de liquidar com urgência,
-O meu telemóvel estaria desligado a partir das 22h até pelo menos às 9h da manhã,
-Pouparia milhares de euros (que poderia gastar em looks da moda) em fee´s de advogado para analisar garantir que os contratos de promessa de compra e venda são elaborados de modo a defender da melhor forma os meus clientes,
-A internet seria para mim um local mágico onde poderia explorar uma imensidão de assuntos de interesse diversificado para além da busca exaustiva da informação mais recente sobre o mercado imobiliário e análise de valores de venda, de modo a aconselhar da melhor forma os meus clientes,
-Responderia a e-mails quando bem entendesse e se bem entendesse, porque, na maioria das vezes, não comprometeriam o sucesso ou insucesso de nenhum negócio ou prejudicaria terceiros,
-Valorizando a pontualidade, tendo agendado um qualquer compromisso, não esperaria por qualquer pessoa mais do que 10m, (quanto mais horas a fio!)
-A minha agenda familiar seria organizada única e exclusivamente em função da minha disponibilidade, dos meus filhos e marido e não da disponibilidade profissional e social de outros
-Calçaria mais vezes os sapatos de salto agulha (mas também gastaria mais em ginásio) porque não andaria diariamente km´s na calçada portuguesa ou a subir e descer lances de escadas, a fazer divulgação de imóveis dos meus clientes
Na realidade, pensei em milhares de outras coisas, e cheguei à conclusão de que, ainda que todos tenham o direito de escolher vender sozinhos e eu respeite a sua decisão, mesmo advertindo para os perigos que possam advir, agradeço por ter ainda tantos clientes que confiam no meu trabalho e que se tornaram até reincidentes!
Se os proprietários todos vendessem sozinhos os seus imóveis, a minha vida seria com certeza menos gratificante, teria feito menos amigos para a vida e talvez nunca sentisse, embora bastante cansada na maior parte das vezes, o que é deitar-me com a sensação de dever cumprido e a satisfação de ajudar outros a realizar os seus desejos!
Obrigada a todos os meus clientes pelo trabalho que me dão, as preocupações, as noites mal dormidas, porque no final, é apenas a profissão que escolhi e que exerço todos os dias com a maior das paixões!
OBRIGADA por me fazerem sentir VIVA!